quarta-feira, 15 de junho de 2011

Escrever errado e falar certo


Quem já não escreveu, em algum momento da vida, poco no lugar de pouco. Ou loro no lugar de louro? E, muitas vezes, quem já aprendeu que devemos escrever louro e couro, aprendeu a dizer também que nós falamos errado, pois dizemos loro e coro. Porém, resolver o problema taxando-o de errado é uma atitude muito simplista, que não leva em consideração questões importantes da língua. Que tal, então, fazer uma análise menos preconceituosa e mais científica dos motivos que nos levam a dizer poço, loro e coisas desse tipo?

Em primeiro lugar, vamos entender como nosso corpo produz os sons das vogais. Faça uma experiência: abra a boca e fale – começando pelo “a” – todas as vogais. Reparou que a boca começa bem aberta e termina mais fechada?

Antigamente, as palavras que possuíam um ditongo AU sofreram uma transformação: o ditongo AU foi se transformando em OU. Segundo Marcos Bagno (A Língua de Eulália, 1998), isso ocorreu porque a língua possui uma tendência em aproximar as coisas, ou seja, em AU, temos que pronunciar dois sons que são muito diferentes - temos que abrir demais a boca, para depois fechá-la, pois o A é muito aberto, enquanto o U é muito fechado. Para diminuir a ginástica que nossa boca fazia ao dizer AU, aproximando o A do U, fomos transformando o A em O. O nome desse processo é assimilação.

E a história não acaba aí: a língua, depois de ter transformado AU em OU, já transformou o OU em O.

Como pudemos observar, a língua se transforma, inevitavelmente. O problema é que as mudanças demoram muito para atingir o código escrito e, por isso, pela não correspondência entre o que falamos e o que escrevemos, temos a errônea impressão de que falamos errado.

É claro que, em alguns casos, devemos optar pela norma culta da linguagem, mas, no caso de OU ser pronunciado O, tanto na norma culta como nos demais falares da língua portuguesa, tal fenômeno ocorre. Para finalizar, lembre-se do que nos ensina Bagno: “...nem tudo o que se diz se escreve, e nem tudo o que se escreve se diz...”. Se tentarmos ser fiéis demais à língua escrita, ficaremos com uma fala completamente artificial.

Fonte: UOL

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