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domingo, 21 de janeiro de 2018

O drama da automutilação em jovens

“O que doeu levo onde vou
Sendo que sou a metade
O que doeu levo onde for
Feito feroz tatuagem” Adriana Calcanhoto”

O que está acontecendo com nossa juventude? Essa é a pergunta que muitos têm se feito diante da crescente onda da automutilação ou cutting (palavra inglesa que significa coisa cortada, incisão e talho), um mal que tem afetado crianças e jovens, principalmente, meninas, do mundo inteiro. Seria autoestima baixa? Problemas familiares? Ou seria uma forma destrutiva de lidar com as frustrações?

Nas escolas, é muito comum por parte dos professores, presenciarem seus alunos adolescentes com diversas cicatrizes e cortes nos membros. Algumas pessoas acham que a automutilação, ou cutting, é frescura de jovens tentando chamar a atenção para si, mas não é. A autolesão é uma doença silenciosa, grave e de cunho psiquiátrico. Nela, o jovem mostra-se introvertido, se isola; usa roupas de frio, mesmo em dias de calor, e tem cortes inexplicáveis pelo corpo.

A psiquiatra da infância e da adolescência, Jackeline Giusti, responsável pelo ambulatório de adolescente e automutilação do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), na quinta edição do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria, o DSM-5, define o cutting como transtorno psiquiátrico com necessidade de estudos futuros. Já na Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10), ela é tida como transtorno do controle do impulso não específico, ou como um dos sintomas de transtornos de personalidade como o borderline.

Ainda segundo Giusti (20017), ao se machucar a pessoa busca alívio para uma dor com a qual não está conseguindo lidar. O corte, ou qualquer outra lesão no corpo, libera endorfina, mesmo hormônio que dá sensação de bem estar, camuflando assim, a dor psíquica que a atormenta.

Como lidar com o cutting na escola?
A orientação de Jackeline é a de que, na hora da conversa com o estudante, é necessário ter uma atitude acolhedora, sem julgamentos, se mostrar disposto a ouvi-lo e tentar entender. A atitude acolhedora também vale para os pais que, geralmente, não sabem como reagir à situação (edição n° 39)

Há um projeto muito interessante chamado “Projeto Borboleta” criado por praticantes de cutting como forma de ajudar a si próprios e a outros automutiladores que sentiam necessidade em parar com essa prática, e consideravam-se prontos para enfrentar a luta. O processo, à primeira vista, parece simples e visa fazer com que a pessoa treine /desenvolva seu autocontrole.

Ele se desenvolve com as seguintes regras:

1)Quando você sente que quer cortar ou se ferir, com uma caneta ou marcador, desenhe uma borboleta em seu braço ou mão (ou em qualquer outra parte do corpo onde você quer infligir dor / auto ferir);

2)Nomeie a borboleta com o nome de um ente querido ou alguém que realmente quer que você obtenha melhora;

3)Você deve deixar a borboleta desaparecer naturalmente. Não esfregue a parte desenhada, ou aplique produtos que possam remover o desenho;

4)Se você cortar a parte do corpo onde há a borboleta, medite que você a matou.
Se você não cortar, ela continua viva e livre! (lembre-se que esta borboleta representa alguém importante para você);

5)Se você tiver mais de uma borboleta, e se cortar (ou machucar de alguma forma) você matou a todas elas;

6)Outra pessoa pode desenhá-las em você. Estas borboletas são "extra especiais"
Cuide bem delas!

7)Se em algum momento você perder o controle, e se cortar, não desista. Recomece todo o programa.

8) Mesmo que você não se corte, sinta-se livre para desenhar uma borboleta para mostrar seu apoio a uma pessoa que pratica o cutting. Se você fizer isso, e nomeá-la, estará ajudando-a (o) a treinar o autocontrole.

A psicopedagoga e psicóloga Camila Fattori alerta para a importância do atendimento rápido, por um psiquiatra ou psicólogo, do jovem que esteja passando por este problema. Afirma também que é preciso tomar cuidado para não menosprezar tal fenômeno, pois pode sim haver sérios riscos físicos e psíquicos, podendo em casos graves progredir para suicídio. 

O cutting é uma doença e como tal, é dever do Estado promover políticas públicas voltadas para o acesso ao tratamento médico, de adolescentes acometidos por esse mal.

Por Professa Inez Resende

FONTES:
Giusti, J.S. Cinco coisas que você deve saber sobre Automutilação. Internet. In O que eu tenho? Disponivel em: http://oqueeutenho.uol.com.br/portal/2009/09/04/5-coisas-que-voce-deve-saber-sobre-automutilacao . Acesso em abril de 2011.
Self-harm. Internet. In BBC Online . BBC News, 2004. Disponivel em: http://news.bbc.co.uk/1/hi/health/medical_notes/4067129.stm Acesso em abril de 2011.
Automutilação. Internet. In Wikipédia, 2011. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Automutila%C3%A7%C3%A3o Acesso em abril de 2017