quinta-feira, 11 de abril de 2013

O que causa alergias?


O que causa alergias todo mundo sabe: partículas de pólen, picadas de abelha, pelos de animais, certos tipos de alimentos (como frutos do mar, amendoim, etc).
Quando essas partículas ou comidas entram no nosso corpo, são chamadas de antígenos. Porém, se você ingerir uma substância da qual seu organismo tem sensibilidade, ela será confundida com um elemento invasor perigoso – nesse caso, embora inofensiva, ela se tornará o que chamamos de alérgeno. Vale lembrar que apenas a sensibilidade a uma substância não garante que você irá desenvolver uma alergia.
Alérgenos fazem com que o nosso corpo produza imunoglobulina E, ou anticorpos IgE. Os anticorpos são usados para identificar e destruir invasores perigosos. Infelizmente, os anticorpos IgE também liberam histamina e outras substâncias químicas que podem causar uma reação alérgica.
Tudo isso os cientistas já descobriram há um tempo. A pergunta crucial que ainda está sem resposta, no entanto, é porque certas pessoas se tornam sensíveis a esses antígenos, enquanto outras passam pela vida felizes com os olhos e narizes secos.
O que determina quais substâncias são potencialmente alergênicas e quais não são? O que torna algumas pessoas alérgicas a uma determinada substância, e outras não? Por que a resposta alérgica existe? Qual seu propósito evolutivo?

Fatores de risco e genética

A Dra. Christine Cole Johnson vem estudando alergias desde o início de 1980. Sua equipe de pesquisa no Hospital Henry Ford (EUA) foi a primeira a mostrar que ter um animal de estimação em casa durante o primeiro ano de vida de seu filho pode protegê-lo de desenvolver alergias, uma descoberta que já foi confirmada por outros estudos.
Sua mais recente pesquisa sugere que o desenvolvimento de alergias começa mesmo antes disso.
Johnson analisou dados de um grupo de mais de 1.200 recém-nascidos do Michigan (EUA) entre 2003 e 2007, avaliados pelos pesquisadores com 1 mês, 6 meses, 1 ano e 2 anos de idade.
Ela descobriu que bebês nascidos por cesariana têm seis vezes mais probabilidade de ser sensíveis a ácaros (alérgicos a poeira) do que bebês nascidos naturalmente. Resultados semelhantes foram vistos com a exposição à alérgenos de pelo de gato e cão.
Isso porque os bebês que nascem de cesariana têm um microbioma diferente em seu trato gastrointestinal. Microbioma são as comunidades de bactérias que residem em humanos, seja em nossas bocas, pele ou sistema digestivo. Essas células bacterianas superam as células humanas na proporção de 10 para 1, e podem ser muito úteis para nós.
No útero, os bebês são estéreis. Quando passam pelo parto natural, ficam expostos à população inteira de bactérias vaginais e gastrointestinais de sua mãe. Através desta exposição, seu próprio sistema imunológico aprende a diferença entre bactérias boas e más – ou seja, quais combater e quais usar.
Os bebês nascidos através de cesárea, por sua vez, têm bactérias que se assemelham mais ao microbioma da pele de sua mãe. Eventualmente, suas bactérias digestivas normalizam, mas esse atraso pode dar tempo para que a exposição à alérgenos se transforme em uma sensibilidade.
Claro, isso é apenas uma possível causa de alergias – ou apenas uma possível causa de muitas causas possíveis.
O Dr. Haejin Kim, também do Hospital Henry Ford, está investigando como a genética pode desempenhar um papel em alergias.
Seu estudo mais recente descobriu que crianças afro-americanas são três vezes mais sensíveis a alérgenos alimentares do que crianças caucasianas. Além disso, uma criança afro-americana com um pai alérgico é duas vezes mais propensa a um alérgeno ambiental do que um afro-americano sem um pai alérgico.
Como esses resultados não se alteram com a ordem de nascimento (outro possível fator de risco) nem com o sexo da criança, apenas com a raça, o Dr. Kim sugere que as alergias podem ser genéticas.
Mas a alergia não funciona da mesma maneira que uma doença genética, que é 100% herdada. “Não há um gene para alergias ou asma. Provavelmente é uma combinação de vários genes que interagem de alguma forma com o meio ambiente”, disse.

Meio ambiente: culpado

Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 30% da população mundial sofrem algum tipo de alergia. Dados de 2004 do Ministério da Saúde revelam que entre 10% e 20% da população brasileira têm asma, e de 10% a 25% rinite alérgica.
50 milhões de americanos têm algum tipo de alergia. Jonathan Silverberg, dermatologista do St. Luke’s-Roosevelt Hospital Center, em Nova York (EUA), analisou recentemente dados de mais de 91.000 crianças para determinar se as nascidas fora dos Estados Unidos eram tão propensas quanto às americanas a desenvolver alergias.
Ele descobriu que os nascidos no exterior que residem nos Estados Unidos têm metade do risco de desenvolver alergias do que os que nasceram lá. Isso era verdade para todos os tipos de alergias, incluindo alergias alimentares, embora a associação tenha sido mais forte para a asma.
As crianças nascidas no estrangeiro que viviam nos Estados Unidos há mais de 10 anos tinham uma maior prevalência de alergias do que as crianças que estavam no país apenas por dois anos.
Os cientistas já sabiam que as exposições ambientais desempenhavam um papel na alergia, afinal, não se pode ser sensível a algo ao qual nunca se foi exposto.
Porém, as últimas pesquisas se concentraram em outros fatores ambientais, que podem estar relacionados ao clima, dieta ou geografia, que podem aumentar a probabilidade de alergias.
É difícil tirar conclusões práticas desses tipos de estudos, segundo Silverberg, mas, eventualmente, saber de onde vêm alergias poderia ajudar os cientistas a descobrir uma maneira de impedi-las, ou pelo menos tratá-las de forma mais eficaz.

Hipóteses

Como já falamos lá em cima, muitos dos elementos envolvidos na resposta alérgica também ajudam a defender o organismo contra vermes parasitas, chamados de helmintos.
Infecções helmínticas levam à produção de níveis elevados de imunoglobulina E (IgE), portanto, a sabedoria predominante tem sido a de que alergias resultam de um “erro de alvo” das respostas imunes que evoluíram para nos defender contra vermes parasitas. Em outras palavras, as alergias são o preço que pagamos para ter uma defesa eficaz contra parasitas multicelulares.
Porém, alguns cientistas questionam se esta hipótese é suficiente para explicar até mesmo os recursos mais básicos da resposta alérgica. Por exemplo, enquanto as infecções por helmintos induzem anticorpos IgE, os IgE por si só não são fundamentais para se livrar da maioria destas infecções.
Uma teoria alternativa para explicar a resposta alérgica foi proposta em 1991 por Margie Profet da Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA). Ela especulou que a resposta alérgica evoluiu para permitir que o sistema imunitário nos protegesse de toxinas ambientais, como os fitoquímicos encontrados em plantas nocivas e venenos.
De fato, enquanto os alérgenos são considerados pela maioria como inofensivos, um olhar mais atento revela que muitos são na verdade tóxicos. Assim, em vez de visualizar a resposta alérgica como uma resposta “mal direcionada” a helmintos, ela pode ser vista como uma resposta intencional, e geralmente benéfica, que nos protege contra substâncias nocivas do ambiente.
A hipótese da toxina permanece em grande parte ignorada pela comunidade biomédica. Porém, os especialistas têm boas razões para confirmar sua validade, como o fato de reações alérgicas serem imediatas (uma resposta mais consistente com a defesa contra as toxinas, que podem causar danos imediatos, em comparação com a infecção por helmintos, que leva algum tempo para se desenvolver).
E por que o corpo, às vezes, cria uma resposta anafilática tão grave e potencialmente letal mesmo a apenas vestígios de um alérgeno no ambiente? Cientistas sugerem que essa resposta pode ter um propósito muito útil, especialmente para os nossos antepassados.
Como qualquer pessoa que sofre de alergias sabe, a melhor maneira de tratá-la é ficar longe do elemento ou ambiente que a causa. Então, se muitos alérgenos são tóxicos, em seguida, a resposta alérgica pode ser interpretada como o condicionamento de uma pessoa para evitar ambientes que contêm toxinas potencialmente prejudiciais a ela. Assim, as alergias podem ter evoluído para nos fazer sentir desagradáveis e nos encorajar a evitar ambientes, animais ou alimentos que contêm substâncias que podem nos fazer mal.[CNNBoehringer]

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